quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

CANTARES DA NOITE

A noite é longa.
E do longe, sombra alberga no íntimo
indiferente ao homem breve
de vigílias e náusea.

A metrópole: um milhão de sonos particulares.
A matéria do escuro (quando não havia abismo)
compondo a linha de estrelas
onde átrios pernoitam manhãs.

Essa equação sem aparato matemático
dorme artefato de corpos pretendentes
em busca de auroras presas
à meia-noite da hora.

A noite é vulva para os bêbados
bacante uivando vinículas
insônia de mortos velados.

Em sua gênese, antecede a noite
ao nada, princípio de anêmonas
esboço de signos suspensos no éter.

Na noite refugiaram-se os poetas
as putas, os funcionários públicos
os possessos profetas de alcovas
todos os gatos zincando telhados.

As palavras surgem e desaparecem
em seu percurso de poema
quando à noite, a solidão é ubíqua.

A malícia de uma mulher
aflora em sulcos de rosas
regadas em atmosfera noturna.

Os homens adormecidos dos dias inúteis, sempre
os mesmos serenos e decadentes pusilânimes
às horas escuras esperam anúncios luminosos
e suicídios em precatórios semeados.

Um dragão roxo nasce no pátio do sono, e
de suas narinas; a infância vermelha
a metálica angústia obtida
os lírios únicos anoitecidos.

Degustávamos congelados como a branca
carne de lua, ou a chama friíssima
onde voa o pássaro só, sob neblina
e o verde-amargo da solidão.

Lua!...
todas as minhas amarguras são tuas!
Enquanto eu te buscava entre estrelas
morte prematura atropelava a infância.

Todo amante já dormiu entre coxas da musa
para desespero de líricos ridículos, feitos
de rosas brancas e campos tímidos.

O meu olhar é longo como a noite;
indisfarçável é a vontade de estar
onde eu me nego.

Eu tenho o entusiasmo pela noite
como o amor que idealizara:
os ritmos dançam unânimes na madrugada

(mas esta noite não veio dançar comigo).

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