sábado, 6 de novembro de 2010

II Fragmento - Através

II


em verdade a palavra em mim inicia
anuncia o campo preparado para a colheita
do que depois será voz módulo estéreo
amperagem processada ou imagem gráfica
digitalizada tridimensional ou como queiram
ou possam traduzir-me do incêndio
que ateei no desvão de minha memória já agora
cinza de rescaldo sem aparato de onde surja
o pássaro fênix ressurgido que eu repudio
para não reeditar e reeditar entradas e entradas
até que inexistam saídas
saída para o que eu errei e tudo torne
saída para o que silenciei e tudo torne
saída para o que me mate e tudo torne
existindo porque e não através de
como fosse negligência das escolhas
que realizei durante a viagem
de meu corpo finitude

IX Fragmento - Através

IX


de frenesi tomado círio a caminho
de velórios ou rosto da noite do mundo
eu vim através do opaco
pela escuridão sem candelabro
de espírito pertencido ao sol
em corpo negro negro negro não como o vazio
ou abismo que são claros de onde os vejo
debaixo da pálpebra mas facho lentamente lume
como de carneiros a respiração
num poro de pele soasse
negro negro evadido do brilho falso brilhante
da cisma de relâmpago na pupila preso em fagulha

devanear é do poema fundamento
as sarjetas da insônia; berço
o poeta de ruínas; voz

da sacristia lua ainda rumor espreita
sol diurno engolfando a praia del chifre
(motivo é apêndice ou silêncio
se o poema não gritar cicatrizes
guardando o íntimo)