quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Último Poema de Amor (XVI)

Eu não sei se tenho o amor
que alguém espera de outro alguém.
Eu digo: -- Calma --, e logo
um homem explode
no centro de Beirute.

O amor então, não se realiza
de mim para aquele suícida.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Três Poemas Incidentais

I
A companheira na luz
eleva meus carinhos
e, na sombra aplaca
meu sofrimento.
É lanterna violeta
que a tarde gris vence
e, em minha gloriosa noite
deita-se comigo qual
um mar estendido na
da praia, branca areia.

II
Só às indiferentes camas
deitei minha vigília
e ardi sonolento
no pavimento das eras.

III
Nas marquises do infinito
nos assoalhos do mundo
nos jardins ulteriores
guardarei espólios de pedra
mar e sangue.

A Palavra no Artista (A Silvio Hansen)

A escrita quase não-lhe interessa.
É como rumor de tarde ante o gozo
de tinta estendida sobre o leito da tela à noite
entre uma cerveja holandesa e um gato azul
que se vai tomando forma ao lado
de orquídeas e musgos vocábulos
infiltrados a dedo, e fluxos contínuos.

A escrita quase não-lhe comove.
Consumiria-o não fosse etílica lua
a guiá-lo por ruas bêbadas, enquanto uiva
divaga, grita ou incendeia as menstruações
de Penélope tecendo rendas por honra
de Ulisses (ou Joyce), em gesta de poemas
derramados de sua fronte, sobre ávida página

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Arquitetura do Sono

No meu sono o limpo
e o sujo dormem a mesma angústia
de silêncio estacionado na memória.
Inútil seria ofertar-me um cálice de vinho
ou transfusão sanguinea: minha edição original
é poligrafia de pedra.

Em mim a sarça não arde
e o deserto fríissimo queima
as asas do pássaro, enquanto inocula
de amianto o peito de homem.

No meu sono
lúcifer despediu-se desalento
e Deus vigia que eu não salte
do parapeito do mais alto edifício

No meu sono
prometi os campos do céu:
as coisas longinquas não comovem
as musas da tarde; tocando nelas
demoradamente, ofertam-se rosas, prosa...
mas o poema na região do sono

talvez não se liberte entre o abrir de olhos
e escovar de dentes.
-- E outra vez o silêncio
estacionado na memória.

Que Mais Há a Dizer?

Que mais há a dizer?
Pátios vazios
féretros de anjinhos
tomates rubros de véspera
rumores do aroma de Dulcinéa
pedras portuguesas do cais;
ilhas de Neruda
cores de Miró
narcisos amando outros
o rio capibaribe sem pontes
a ponte de ferro sem rio
o inexistir

A úbere fêmea
a ubiquidade de Tánatos
o terceiro reich, a panacéia
a higiene dos octogenários
a literatura pobre da ex-literatura
a poesia enjoativa decassílaba;
a crema a crisma o creme chantilly
a alfazema Hugo Boss, a América
o toque de recolher, todos os tiranos
a meta: física, linguagem, etc.
a palavra CONCRETA, a reta
Que mais há a dizer num poema?

-- Eu prefiro abrir a janela

Serenata

Talvez, Lygia
me espere na manhã
de sinos, lírios e violinos.

Eu, entanto
às entranhas da noite
uivo outro nome.

Oi Pessoal

Oi Pessoal,

Começo uma nova etapa na veículaçao dos meus trabalhos, espero que este espaço nos aproxime, e nos remeta ao fim (essencial) da poesia, criar a beleza ou a estranheza, enfim, o sublime.

abraços

rogério generoso