Urde o tempo empalidecer-me o rosto
vendar-me os olhos, secar-me.
O futuro do corpo é extinto
mas tenho na alma secreta
inquieta e ágil de poeta
íntimo incólume e imenso conforto
no dínamo de teu nome
ou no aparato azul de julho
Pássaro sejas, para que não morras
surdo acrobata no arame que
só possa migrar ao chão durável
ou a terminar seu ato e tornar
aos vômitos quânticos
aos tímidos cânticos
ao anônimo rosto de sombra
e nada mais
Os lírios brancos...
amo-os, porque nos campos
concebem o desenho limpo
de madona desnuda e tenra;
febre que banha o intacto lençol
do líquen de nascer o invento
impregnado em carne úmida
de homem a cavalo
No silêncio das horas
de uma tarde tediosa e açoite;
de uma noite indormida e só
eu cheiro um pó de cinzas
e vou por entre nuvens
espessas do fim do mundo
acossado dentro de mim
pelo rictus da solidão
Ainda o poema duelava com o sono
despido das práticas inúteis
de nomear palavrórios
às margens de campos alvos;
e já eras signo libertado
da substância mera -- o poder
de dentro da palavra -- a palavra
que há, para que haja o poeta
O herói de corpo renovo
não prometeu vir para esse mundo
de cerco e pesadelos, ressurgido
por subterrâneas nascentes, contra
orgulhosos príncipes egoístas
e o que neles é insônia
ou metástase de seus delírios;
mas ele veio e amou
O que pode o homem sem o herói
e o herói sem o ofício?
Da chama à cinza, partem para o silêncio
de comícios definitivos, o nosso barro.
Vai assim, como jardim, teu sonho
e, sobre meu túmulo futuro já cresce
a flor sepulcral da noite
isenta de finalidades
Para ti mesmo é que vieste;
para que existas sem cessar
com tua própria linha cosendo
a tua roupagem de lírio;
de nada de anjo ou dragão roxo
do meu sonho sem mensagem
ou significação de silêncios:
para isto é que vieste.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
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